segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Parede Branca


Para lá da parede branca havia um hospital. Era um hospital especial:  Tinha maluquinhos.
 Isto é o que o povo dizia,  na gíria. Mas eram todos doentes. Muito doentes.
Uns, com falta de cor porque tinham a mania que o sol lhes comia a carne, depois os músculos e depois os ossos. Por essa razão não saíam do quarto que era todo branco, de uma limpeza asséptica e vestiam pijamas pretos que ligavam bem com a brancura.
Havia outro grupo, os coloridos. Esses sim, ar puro e livre. Gostavam de ver os gatos a brincar no jardim que eram todos pretos e brancos.
As tarefas estavam bem distribuídas.
Formavam grupos de sete. Sete homens. Sete mulheres. Não se misturavam homens com mulheres. Por experiência, sabiam que o resultado não era positivo. Vá-se lá saber porquê.
O grupo que contava as folhas das árvores, passava o  dia a contar as folhas das árvores. Só das árvores. Divididas por andares, cada um ficava com a sua fatia. Tarefa muito estimulante no verão, pois a folhagem era frondosa, contrariamente ao que acontecia no inverno, pois só restavam as árvores de folha perene o que tornava o trabalho fastidioso. Quem mais rápido contasse, tinha um prémio extra que, por norma, era material de pintura para pintar árvores em telas gigantescas que se estendiam pela parede branca.
O grupo que contava formigas, passava o dia a contar formigas. Era composto, por tradição, pelo pessoal feminino, pois era um trabalho de precisão. Consistia em fazer o inventário da espécie que estava em vias  de extinção. O terreno estava dividido por zonas e cada elemento trabalhava a sua zona. Não havia que enganar. Em cada formiga era colocado um chip com a identificação devida. Os ninhos tinham vídeo-vigilância e as novas formiguinhas eram marcadinhas à nascença. Era muito importante, pois todo o trabalho das obreiras era informatizado e desde o nascimento à morte sabiam a quantidade de trabalho produzido.
E assim passavam os dias numa grande azáfama. Pouco tempo sobrava para o lazer.
Trabalho bem pago era este, pois tudo isto era suportado pela Universidade do Bem Fazer. A Universidade do Bem Fazer  trabalhava todos os dados recolhidos e, em contrapartida, todas as despesas dos internados eram pagas pela referida faculdade.
Muitos outros estudos foram feitos e muitos mais estudos vinham a caminho.
As tarefas eram de acordo com o perfil dos doentes. Estes, rondavam os 35 e os 45 anos e tinham todos estado ao serviço da Finança Mundial, que no início do século XXI  (primeira década) tinham fabricado, a pedido,  a maior crise financeira mundial.
Ah! Falta dizer que os que tinham falta de cor  tinham sido, todos,  famosos políticos mundiais e que agora só comiam comida cinzenta.
M, Junho, 2011

8 comentários:

  1. Cara M,
    Muitos parabéns pelo seu «escritinho», gostei muito!
    Força aí, quero ler mais!
    Beijo. mj

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  2. Olá M,
    Adorei....
    Também quero ler mais, muito mais.
    Parabéns!
    Beijinho. MM

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  3. Olá M,
    Gostei muito!
    Sobretudo da comida cinzenta...!
    Muitos parabéns!

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  4. Olá M,

    Gostei muito, está muito giro.
    Continue, queremos ler mais.
    Bjs. r

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  5. Olá Raquel.

    Assim farei até esgotar a imaginação.
    Obrigada ler os meus escritinhos.
    M.

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  6. Olá Lias.
    Obrigada.
    Também vai gostar do que está para vir.
    M.

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  7. Olá Maria Manuel.
    Obrigada pelo apoio.
    Vou continuar sim.
    M.

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  8. Olá Majo.
    Duplamente obrigada por me ter metido nesta alhada.
    Também eu estou a gostar!
    Sem si nada disto tinha acontecido.
    A minha vida está mais interessante depois de a
    conhecer.
    M.

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