sábado, 16 de julho de 2011

O MISTÉRIO DA RUA 13


A rua 13 era povoada por algumas famílias. Não tinha prédios e também não tinha saída, ou seja, ao fim da rua tinha um grande campo de cultivo onde se podiam ver as culturas sazonais, o que dava um certo encanto ao local. Era uma parte nova da cidade que apostava no sossego e onde se podia usufruir de alguma ruralidade, o que era coisa rara nos tempos que correm.

No número 437 da rua 13, algo de estranho se passava. A família que lá morava tinha comprado a casa há pouco tempo e estava muito contente por lá morar, pois podia criar os filhos ao ar livre. O jardim das traseiras proporcionava às crianças o espaço ideal para as suas correrias e brincadeiras, sem terem de sair de casa.

O jardim ainda não estava bem acabado e ia sendo construído aos poucos pelos donos da casa, que gostavam imenso de jardinar ao fim de semana. Quem mais  se dedicava, era, sem dúvida, a Maria José que tinha passado a sua infância na aldeia, o que fez com que o chamamento da terra se tivesse entranhado nos ossos, assim como se entranha o nosso nome. O marido dava mais palpites que outra coisa, mas de vez em quando metia as mãos na terra para plantar as árvores que iriam ver crescer, ao mesmo tempo que os seus filhos.

Nesse ano foi plantada uma magnólia junto à garagem para dar sombra no verão e, na primavera, embelezar a casa com as suas flores cor-de-rosa.

Junto da lavandaria existia o estendal da roupa que se utilizava sempre que o tempo estava bom. A roupa era lá pendurada e, quando havia tempo era recolhida, ou ficava lá, mesmo já estando seca, porque quem trabalha não tem tempo para tudo. Esta tarefa era só dos adultos, pois os putos ainda eram pequenos, o João de 3 anos e a Clara de 7 anos,  já tinham tarefas domésticas atribuídas, coisas simples e fáceis, tais como limpar a relva que servia de quarto de banho da Pipoca. A Pipoca era a cachorrinha rafeira e meiguinha lá de casa, muito ladina e que lhes fazia muita companhia.

Bom, e voltando ao  mistério da rua 13…

Continuava o desaparecimento sistemático das meias pretas. O curioso é que só desapareciam as meias pretas do papá, dizia a Maria José aos vizinhos. Sim, porque o caso já era falado em toda a vizinhança. Andava tudo intrigado. Mas o que será e para que será que querem as meias pretas?! Só as meias? Era muito estranho e, ainda por cima, só daquela casa. Conversa, puxa conversa e nada de pistas para descobrir o mistério. Um vizinho dava um palpite, outro dava outro, mas nada de concreto. Nenhuma pista.

A família não teve outra solução e colocou uma câmara de vídeo para deslindar o caso.
O investimento era justificado pelo facto de que servia no futuro para vigiar e proteger a casa. Não era pelo custo da constante renovação do stock de meias, por isso, foi posto em prática.

Instalado o equipamento, passado dois dias o mistério estava definitivamente desvendado.

A gargalhada foi geral quando a família se reuniu para ver a gravação. Não queriam acreditar no que viam. O Pim-Pan-Pum, o gatão da vizinha da frente, a saltar à corda e duma penada apanhava duas meias com as patas da frente. Só parava quando tinha as meias todas e por vezes eram os pares todos de uma semana. Depois da pescaria, juntava-as e desaparecia com as meias. Este trabalho era sempre feito pela calada da noite. O mistério do destino das meias ainda hoje está por desvendar. Indagada a vizinha da frente, esta não é capaz de descobrir o que o gato fazia com as meias. O problema ainda está por resolver.

Uma coisa é certa.
O dono do 437 da rua 13 é um grande comerciante de peixe fresco. E a família do 437 ainda tem um problema entre mãos.
Terá o dono da casa de mudar de profissão?
Terá o pobre do Pim-Pan-Pum deixar de ser noctívago?

E você, cara/o leitor/a:
- Onde pensa que foram parar as meias pretas?
- Como acha que a família do 437 vai secar as meias pretas?
Gostaria de desvendar estes mistérios?

M, 16 de Julho, 2011

6 comentários:

  1. Parabéns pelo novo conto!!!! Muito interessante esta ideia de podermos inventar um final. Ora aí vai..
    O Pim-Pan-Pum tinha sete vidas, como todos os gatos. E nesse momento estava a viver a sua quinta vida. Ora, tal como reza a história, durante essa quinta vida, ele competiu ferozmente com o Gato das Botas. O Pim-Pan-Pum, na impossibilidade de ser o Gato das Botas, queria ser o Gato das Meias, por isso decidiu coleccionar o maior número de meias pretas, para poder entrar no Guinness como o Gato das Meias, ou seja, o mesmo que o Gato-Que-Mais-Meias-Pretas-Tinha. Mas o gatão da vizinha tinha pouca sorte. Ali por perto, apenas o vizinho do 437 usava meias pretas, porque todos os outros vizinhos eram livres e usavam meias de todas as cores. De maneira que o Pim-Pan-Pum, ultimamente andava muito deprimido e desmotivado e estava a pensar fugir de casa para uma comunidade que usasse apenas meias pretas. Mas a escolha estava a ser complicada, porque os políticos usavam meias pretas e eram uns mentirosos; os advogados e juízes, também usavam meias pretas e não faziam justiça; os homens da sociedade, também usavam meias pretas, e eram uns fúteis; os militares usavam meias pretas e já não faziam revoluções; os polícias usavam meias pretas, mas já não protegiam o povo e para além destes havia ainda outros grupos que usavam meias pretas, mas Pim-Pan-Pum, não queria, nem de perto nem de longe, ser vizinho deles, porque os achava a todos muito más companhias e porque as meias pretas deles tinham um péssimo karma, além de muito chulé. E então o Pim-Pan-Pum teve uma ideia! Foi pelos seus pés à internet pesquisar o endereço da fábrica de meias mais perto de si e planeou um assalto que concretizou com sucesso. Apenas numa noite, ele arranjou a quantidade de meias necessárias para bater o seu próprio recorde e as restantes noites, passou-as muito sossegado a ronronar no colo da Maria José, que tinha comprado um secador de roupa e não precisava mais de ir estender as meias no estendal.

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  2. Razão tenho eu em não gostar de gatos. Não faço ideia do que aconteceu às meias mas quer-me parece que esse felis silvestris catus (o google é maravilhoso) vai entrar na sexta vida mais rapidamente do que tinha planeado...

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  3. Ahhh, amei a explicação da Maria José, ahhh com que então de um conto ela fez outro bastante engraçado, uma boa resposta.

    Cá para mim o gatarrão não era nada menos nada mais que um bom pai, e tinha uma ninhada de filhos para criar, e como gato que se preze não olha a meios, ele queria ver os filhos todos calçados nesse Inverno e vai daí...levava as ditas para o anexo onde a companheira a bolinha de ping pong, que era saltadora, cuidava e agasalhava os gatitos deles...

    beijitos, e linda história, está aqui vamos começar a ler a nova Agatha Christie...

    laura

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  4. Olá Anónimo/a

    Obrigada pela participação.
    De Felis silvestris catus gosto eu.
    Quem és tu nesta vida?
    Muitas vidas para ti.
    M

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  5. Olá Laura,
    Muito maternal e ternurento o teu comentário.Obrigada.
    Muitos miaus e ronrons para ti.
    M

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  6. Olá Majo.
    Palavras para que? O problema da família da Rua 13 esta super bem resolvido.
    O Pim-Pan-Pum já me disse que está muito feliz.

    É muito bom aprender consigo.

    Do fundo do coração obrigada.
    M.

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