quarta-feira, 3 de abril de 2013






M A G N Ó L I A



Rosa forte tu vestes
Com rendas brancas no meio
Sinal da Primavera
Pela qual tanto anseio.
Verde vestes a seguir
De mil folhas todas iguais
Ficas grande, gorda, e redonda
Vaidosa pelo Verão tu vais.
E quando o Outono chegar
As folhas tu vais dourar.
Chega o Inverno,
Todas caem no chão
De tão fracas que estão
Por não resistirem ao vento
Que com sádico prazer
Nua te vai deixar,
Até outra Primavera voltar.


M.
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terça-feira, 2 de abril de 2013







A Z U L



Azul Maya
Azul-turquesa
Azul índigo
Azul certeza

Azul-marinho
Azul-bebé
Azul celeste

Azul cereja
Azul-cobalto
Azul basalto

O que te faz ser azul?

Qual o teu pigmento?
O que te faz anilar?
A água do rio ou a do mar?

A minha vida é o azul do mar.


M.
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terça-feira, 12 de março de 2013




A CARTA


Minha querida Radegundes espero que esta te vá encontrar de perfeita saúde.
Ando triste como a noite, minha Princesa dos Montes Caulinos.

Não sei como aguento este amor vindimado que cai de maduro. Tenho muitas saudades tuas, minha Princesa. O teu regresso adivinha-se longo mas o meu amor telúrico esperará por ti minha perfumada flor. Quando me deito penso em ti e de tanto pensar acabo por adormecer. Deixei de ter as insuportáveis insónias. Sonho toda a noite contigo na Praia dos Beijinhos. Ai, que saudades de olhar para os teus belos tornozelos! Ai que saudades dos teus lindos olhos de mel! Ai que saudades das tuas níveas mãos!

Queria tanto abraçar-te, beijar-te e sentir o teu coração a pular como o meu.

Esta noite sonhei que eras uma estátua de areia e que quando te beijava derretias e transformavas-te num lindo lago azul onde eu me banhava todo nuzinho.

Radegundes, minha Princesa dos Montes Caulinos, desculpa-me esta franqueza toda, mas isto é só amor e nada mais! Amor do mais puro que há sem contaminações nem outras intenções.

Quem me dera ser cacho de uvas,
Na tua linda videira
Saciar a tua sede de amor
E amar-te para a vida inteira.

O amor não escolhe idades
A idade ensina-nos a amar
De ti tenho saudades,
Daquelas tardes de mar.

Estás longe…
Nesse Douro vinhateiro
Mas por ti esperarei o ano inteiro
Até ao encontro na areia
Onde tecerei uma teia
Para te prender numa noite de luar
E contigo para sempre ficar.

Mais que uma promessa de amor
Isto é um grito de dor.
Mais que uma promessa de amor
Isto é uma declaração
De quem por ti nutre uma grande paixão.

Casa comigo minha Princesa.

Espero ansioso a tua resposta a este meu ousado pedido. Espero também que os teus filhos não se oponham a esta união que tanta felicidade me vai trazer depois de tão prolongada e dolorosa solidão.

Escuta o teu coração e saberás o que fazer.

Deste que já não sabe viver sem ti, que pensa o dia todo em ti, e que em sonhos te leva para o leito.

Um grande beijo nas tuas rosadas maçãs do rosto.
Manuel.

Senhora da Hora, 18 de Setembro de 1928

M.
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domingo, 17 de fevereiro de 2013






O LIVRO

Naquele quente dia de verão a Inês sentou-se debaixo da sua árvore favorita do jardim para ler.

Sentia-se confortável à sombra mas não estava muito concentrada no que lia. Distraía-se por tudo e por nada. A leve brisa que agitava a árvore lá no fundo, as formigas que passavam em carreiro a rasar os seus pés,
os pássaros a cantar, enfim, tudo servia para a distrair.

No fim do primeiro capítulo fez uma pausa para se refrescar. Bebeu uma limonada e regressou ao sítio da leitura. Pegou no livro mas já não se lembrava muito bem do que tinha lido e voltou umas páginas atrás.
As palavras não estavam lá. As páginas que tinha lido estavam em branco. O que leu desapareceu como se os seus olhos tivessem apagado as palavras.
Olhou dezenas de vezes para a capa. O livro era o mesmo, aquele que ela tinha pegado ao acaso da estante.

Ainda que muito intrigada resolveu continuar a ler. Fez um esforço para se concentrar e agarrar a história.

Uma hora depois, pousou o livro na cadeira e foi esticar as pernas numa breve caminhada. Voltou muito curiosa para ver se todas as palavras lidas tinham sido comidas sabe-se lá por quem.
Abriu o livro e viu que todas as folhas lidas esbranquiçaram, nem uma letra, nem ponto, nem vírgula.

Ler o livro até ao fim passou a ser o seu único objectivo. Tinha de terminar de o ler o mais rápido possível para descobrir se o livro se iria transformar no livro branco.

No dia seguinte quando leu a última palavra sentiu um baque no coração, não pela história em si mas pelo quão misterioso era aquele livro que tinha deixado fugir as palavras.
Inês pousou o livro na cadeira e foi dar um breve passeio pelo jardim.




Quando voltou sentou-se, fechou os olhos e reclinou-se para trás. Minutos depois abriu os olhos lentamente e viu as palavras do livro penduradas nos ramos da árvore.

As páginas do livro estavam todas brancas.

As palavras penduradas e a árvore estavam felizes como nunca. Dançavam ao sabor do vento. Brilhavam com a luz do sol.
Já não estavam encarceradas e apertadinhas entre as folha de um livro dependentes da vontade de um leitor.
Agora eram livres e continuavam a ser palavras.

Quem sabe, um dia, voltariam ao seu livro.

M.
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013



AS HORAS



Não quero as horas
Todas as horas…


Todos os dias das horas…

Batem na minha cabeça
Envelhecem a minha pele

As horas que minhas não são
Emprestam-me a ilusão de viver
E no dia seguinte lá estão

A diminuir o meu dia
A acrescentar a noite
A contar os meus anos
Companheiras da minha solidão
Entram no meu nariz
Percorrem a respiração

Entram e saem
Entram e saem

São de todos e de ninguém
Marcam o nascer e o morrer
E continuam mundo fora
Como uma grande invenção
Numa enorme precisão

E eu pergunto
Qual a melhor hora
A melhor hora da minha vida?
Será a hora da minha morte?

No fim, todas as horas foram minhas.

M.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O ENGANO DO PAI NATAL



A Francisca levantou-se num alvoroço e foi a correr ver os seus presentes de Natal.
Na sala grande estava um enorme embrulho que até era maior do que ela. Com a preciosa ajuda do gato Mozart que adorava usar as suas unhas bem afiadas, rasgaram o papel e a caixa de cartão. Dentro da grande caixa estavam outras caixas mais pequenas, cada uma com um nome por fora. Para o Daniel, para a Catarina, para a Maria e assim por diante…

A Francisca disse para o gato Mozart:

- Hum!… Tenho a certeza que o Pai Natal se enganou. Estes presentes são para muitos meninos e meninas que moram na mesma casa, não achas Mozart! 

Em jeito de resposta, o gato abanou a cauda para a direita e para a esquerda e sentou-se.

Abriram a primeira caixa. Dentro estavam chocolates. Abriram a segunda e dentro estavam chocolates, a terceira e por aí adiante. Todas tinham chocolates.

A Francisca também se sentou no chão e ficou a pensar o que havia de fazer com aquela prenda. O papá e a mamã não me vão deixar comer isto tudo, pensou a Francisca.
A sala estava cheia de caixas de bombons. O gato Mozart dormia ao lado da Francisca que ainda se encontrava a imaginar quanto tempo ia demorar a comer tanto chocolate.

Se ao menos o embrulho tivesse uma morada, ainda seria possível desfazer o engano do Pai Natal.

Tão forte preocupação passou a invadir os sonhos da Francisca.
Uma vez sonhou que estava a tomar banho em chocolate e transformou-se na Menina de Chocolate. Acordou toda transpirada e sobressaltada porque alguém a partia aos bocadinhos para comer a Menina de Chocolate.

Mais uma vez sonhou com todo aquele chocolate. Muito entusiasmada e contente, construiu uma casa de chocolate que ficou muito bonita.
Acordou novamente muito aflita porque a sua casa estava a desaparecer. Toda a gente da aldeia estava a desfazer a sua casa. As paredes, as telhas, as escadas, os móveis, tudo estava a ser comido pelas crianças e por toda a gente grande que gostava de chocolate.

Também sonhou que o mar era de chocolate, os barcos, os peixes e até os pescadores que andavam à pesca, eram de chocolate. Nesse dia acordou mais calma porque ninguém comeu o mar, nem os peixes nem os homens de chocolate que pescavam peixes de chocolate.

No seu último dia de férias de Natal a Francisca brincava às escondidas com o seu gato e encontrou-o dentro do seu guarda-vestidos muito ensarilhado na sua camisola castanha.

- Já sei! Gritou a Francisca. Já sei o que vou fazer com todos os bombons!

No primeiro dia de aulas, depois das férias, falou com a professora.
À noite falou com os pais. A sua ideia estava a entusiasmá-la e meteu mãos à obra. Falou com todos os meninos da sua turma e todos concordaram. No último dia de Janeiro a aldeia estava em festa. Ninguém cabia de contente ao ver aqueles lindos trabalhos feitos de chocolate.

A imaginação estava ali, naquele que era o primeiro festival do chocolate.
Todos podiam comprar uma escultura. Um gato, uma árvore, um sapato, uma cadeira, um carrinho, um elefante, uma flor, um livro, uma menina de chocolate, tudo, tudo que até fica cansativo dizer aqui. Só mesmo visto!

No último dia do festival, caíram do céu pintarolas de chocolate de todas as cores.

A aldeia da Francisca ficou famosa pelos seus Festivais do Chocolate.


M.
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