terça-feira, 12 de março de 2013




A CARTA


Minha querida Radegundes espero que esta te vá encontrar de perfeita saúde.
Ando triste como a noite, minha Princesa dos Montes Caulinos.

Não sei como aguento este amor vindimado que cai de maduro. Tenho muitas saudades tuas, minha Princesa. O teu regresso adivinha-se longo mas o meu amor telúrico esperará por ti minha perfumada flor. Quando me deito penso em ti e de tanto pensar acabo por adormecer. Deixei de ter as insuportáveis insónias. Sonho toda a noite contigo na Praia dos Beijinhos. Ai, que saudades de olhar para os teus belos tornozelos! Ai que saudades dos teus lindos olhos de mel! Ai que saudades das tuas níveas mãos!

Queria tanto abraçar-te, beijar-te e sentir o teu coração a pular como o meu.

Esta noite sonhei que eras uma estátua de areia e que quando te beijava derretias e transformavas-te num lindo lago azul onde eu me banhava todo nuzinho.

Radegundes, minha Princesa dos Montes Caulinos, desculpa-me esta franqueza toda, mas isto é só amor e nada mais! Amor do mais puro que há sem contaminações nem outras intenções.

Quem me dera ser cacho de uvas,
Na tua linda videira
Saciar a tua sede de amor
E amar-te para a vida inteira.

O amor não escolhe idades
A idade ensina-nos a amar
De ti tenho saudades,
Daquelas tardes de mar.

Estás longe…
Nesse Douro vinhateiro
Mas por ti esperarei o ano inteiro
Até ao encontro na areia
Onde tecerei uma teia
Para te prender numa noite de luar
E contigo para sempre ficar.

Mais que uma promessa de amor
Isto é um grito de dor.
Mais que uma promessa de amor
Isto é uma declaração
De quem por ti nutre uma grande paixão.

Casa comigo minha Princesa.

Espero ansioso a tua resposta a este meu ousado pedido. Espero também que os teus filhos não se oponham a esta união que tanta felicidade me vai trazer depois de tão prolongada e dolorosa solidão.

Escuta o teu coração e saberás o que fazer.

Deste que já não sabe viver sem ti, que pensa o dia todo em ti, e que em sonhos te leva para o leito.

Um grande beijo nas tuas rosadas maçãs do rosto.
Manuel.

Senhora da Hora, 18 de Setembro de 1928

M.
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