sexta-feira, 18 de maio de 2012

A VIAGEM AO DESERTO





Maria Miguel recolheu-se no seu quarto. Sentia uma enorme responsabilidade pela apresentação que ia fazer no dia seguinte na Gulbenkian. Tinha altas expectativas para aquela conferência onde ia apresentar um dos seus recentes trabalhos. Descansar era muito importante para estar em forma e por isso declinou o convite da malta para ir beber uns copos num dos bares das docas.

Para relaxar um pouco antes da sua palestra decidiu que ia dar um passeio nos jardins da Gulbenkian.

A sua intervenção foi um sucesso e o seu ego ficou nos píncaros da lua com tantos aplausos dos seus colegas cientistas que tinham vindo de toda a parte do mundo. Divertiu-se imenso naquele cocktail após a conferência. Aquele era o seu mundo, o seu ambiente, a sua gente. Ouviu as anedotas mais picantes e algumas histórias bem divertidas.

O próximo destino daquele fim-de-semana era a casa dos pais em Cascais com quem já não estava desde as últimas férias de verão.

Maria Miguel entrou na Linha de Cascais a ouvir música clássica como nos velhos tempos. Aquela viagem era sempre muito agradável, mas, aquela em particular, tinha um não sei que de especial. Escolheu um CD de Gustav Mahler que combinava tão bem com aquele por de sol e o cheiro intenso do mar que lhe entrava pelas narinas e lhe inundava o cérebro. Já perto de casa dos pais sentiu um arrepio de frio e uma sensação muito estranha que não conseguiu entender. Entrou na garagem do condomínio fechado e mal abriu a porta do carro para sair já estava a ser agarrada por um corpulento homem que lhe encostou um lenço ao nariz e a fez desmaiar.

Quando acordou, Maria Miguel estava num enorme iate, no Mar da Palha, a caminho do alto mar. Ao seu lado estava um homem moreno que amavelmente lhe explicou em língua inglesa que nada de mal lhe ia acontecer. Disse-lhe ainda que no mar alto mudaria do iate para um barco com heliporto. Um helicóptero ia transportá-la até ao deserto de An Nafud na Arábia Saudita.
Maria Miguel, num ataque de pânico, berrou com quantas forças tinha mas rapidamente percebeu que no alto mar não havia ninguém que a ouvisse e muito menos viesse em seu auxílio. Num relâmpago pensou atirar-se ao mar mas também não resolvia nada com isso. Respirou fundo e decidiu que qualquer hipótese de fuga tinha de ser adiada, porque nunca poderia ser bem sucedida. Pensou um pouco e a atitude mais inteligente era tentar fazer diálogo com o seu sequestrador para sacar alguma informação sobre tão enigmático rapto.
O homem moreno disse-lhe que trabalhava para uma organização secreta da qual nem ele sabia o nome nem quem estava por trás. Tinha ouvido um comentário acerca do interesse que eles tinham no trabalho secreto que ela estava a desenvolver no MIT. Também lhe adiantou que a sua missão acabava quando ela estivesse dentro da tenda que se encontrava  no deserto.

A família de Maria Miguel vivia o maior drama das suas vidas. A polícia tinha sido alertada para o desaparecimento da sua única filha. O inspector Seruca Andrade desdobrava-se em contactos para deslindar este misterioso desaparecimento. A mãe de Maria Miguel, lembrou-se de contactar o director do MIT e mal teve este pensamento correu para o telefone. O toque inesperado às três da madrugada fez com que o Dr. Badwather atendesse com uma voz agressiva. Rapidamente mudou de registo quando a mãe de Maria Miguel no meio de um choro descontrolado lhe disse que a sua filha tinha desaparecido quando estava a caminho de casa. O Dr. Badwather conseguiu tranquiliza-la um pouco. Uma hora depois o telefone da família de Maria Miguel tocou. Atendeu o pai. Era o Dr. Badwather com notícias. Pouco adiantou, mas foi o suficiente para desanuviar o tenso clima que se vivia naquela casa onde ninguém dormiu.
Maria Miguel tinha-se evaporado. Ninguém conseguia perceber como é que o carro alugado estava estacionado na garagem do prédio, aberto, com a sua carteira e o telemóvel no banco da frente!

Maria Miguel já estava nas mãos de quem tinha encomendado o rapto. Todo aquele ambiente era muito estranho para ela e a sua estabilidade emocional, a lucidez e a aparente calma estavam por um fio. Decidiu que a atitude mais inteligente era manter o sangue frio para registar todos os pormenores dos intervenientes presentes, as suas feições, os seus gestos, os movimentos e tudo o que se estava a passar naquela tenda, já que não sabia uma palavra de árabe.

Sensivelmente uma hora depois de ter entrado naquela tenda, foi obrigada a mudar de roupa e vestir o traje dos beduínos. Pela primeira vez na sua vida estava sentada num camelo muito mal cheiroso. Aquele calor do deserto queimava a sua delicada pele mesmo estando já o crepúsculo a aparecer. O desconforto da viagem estava quase a dar com Maria Miguel em doida.

De repente um clarão aparece no céu. Um objecto estranho parecido com uma aranha gigante pousa nas areias do deserto. De dentro saem sete homens ou robots vestidos de prata que levam Maria Miguel para dentro da nave.

Sete minutos depois tocou o telefone na casa dos pais de Maria Miguel em Cascais. Atendeu o pai que recebeu a feliz notícia. A sua filha já estava a caminho de Bóston.

Maria Miguel, abriu os olhos. Estava deitada no sofá do escritório da casa do Dr. Badwather. Olhou-o perplexa e perguntou-lhe:
-Presumo que me deve uma explicação! Como é que me conseguiu descobrir?

Muito simples minha cara Miguel. Por segurança e porque você sabe coisas que a tornaram demasiado importante, o seu corpo guarda um olho mágico que não a deixa fugir para lado nenhum.

Maria Miguel agarrou no telefone e marcou o número da casa dos pais.

M.
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