terça-feira, 20 de março de 2012

UM LUGAR NA TERRA

Havia um lugar na terra onde ainda não tinha chovido no Inverno. Naquele Inverno o Sol não se cansava de brilhar. Estava todos os dias lá, no céu, exuberante de manhã à noite. Tão quente que não deixava cair uma gota de água naquela terra ressequida, fustigada pelo vento e pela geada negra. O chão que costumava estar mais verde começou a amarelar.
Os animais andavam tristes porque não tinham aquela erva viçosa e gostosa para comer. Comiam palha amarela, feno amarelo e milho amarelo. Estava tudo mais amarelo e o verde quase tinha desaparecido não fosse as árvores ainda lá estarem.
Já se dizia que o céu andava tão contente que se tinha esquecido de chorar. Então os homens da terra pensaram em chorar todos ao mesmo tempo, mas perceberam, que por muito que chorassem a água que cairia na terra nunca seria bastante. A única maneira de molhar a terra era fazer com que o sol se escondesse, as nuvens viessem, chorassem muitas lágrimas de tristeza que, para a terra, os animais e os homens seria a maior das alegrias. 
Os homens falaram com os rios, os mares e as fontes e pediram ao arco-íris para ir lá beber tanta água quanta ele pudesse. O arco-íris andava tão feliz e distraído que estava seco como a terra porque só costumava trabalhar nos dias em que chovia e aparecia uma réstia de sol.
Os homens da terra reuniam-se para pensar no que deviam ou não deviam fazer para chover. Então, no meio da multidão, surgiu uma voz de criança que disse que se os homens contassem uma história muito triste ao céu, de certeza que ele ia chorar. Nessa noite, cada homem da terra contou ao céu a história mais triste da sua vida. Muitas das histórias tristes contadas ao céu eram histórias de sofrimento da terra, das plantas e dos animais. Talvez por isso, na altura em que os homens se recolheram nas suas casas começaram logo a cair as primeiras lágrimas do céu. De madrugada, o sol estava todo escondido atrás da tristeza do céu. As muitas nuvens cinzentas, que de tão tristes que estavam, deixaram cair tanta água que a terra fumegava de tão contente.
 Nesse dia quem se levantou cedo viu a dança da chuva que trazia vida dentro de cada gota de água.

M.
www.bebebabel.com.pt

1 comentário:

  1. Lindo texto, poético, bem trabalhado que apesar de triste se revela com um final que o torna alegre.
    Parabéns.
    Célio Passos

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