sexta-feira, 25 de janeiro de 2013



AS HORAS



Não quero as horas
Todas as horas…


Todos os dias das horas…

Batem na minha cabeça
Envelhecem a minha pele

As horas que minhas não são
Emprestam-me a ilusão de viver
E no dia seguinte lá estão

A diminuir o meu dia
A acrescentar a noite
A contar os meus anos
Companheiras da minha solidão
Entram no meu nariz
Percorrem a respiração

Entram e saem
Entram e saem

São de todos e de ninguém
Marcam o nascer e o morrer
E continuam mundo fora
Como uma grande invenção
Numa enorme precisão

E eu pergunto
Qual a melhor hora
A melhor hora da minha vida?
Será a hora da minha morte?

No fim, todas as horas foram minhas.

M.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O ENGANO DO PAI NATAL



A Francisca levantou-se num alvoroço e foi a correr ver os seus presentes de Natal.
Na sala grande estava um enorme embrulho que até era maior do que ela. Com a preciosa ajuda do gato Mozart que adorava usar as suas unhas bem afiadas, rasgaram o papel e a caixa de cartão. Dentro da grande caixa estavam outras caixas mais pequenas, cada uma com um nome por fora. Para o Daniel, para a Catarina, para a Maria e assim por diante…

A Francisca disse para o gato Mozart:

- Hum!… Tenho a certeza que o Pai Natal se enganou. Estes presentes são para muitos meninos e meninas que moram na mesma casa, não achas Mozart! 

Em jeito de resposta, o gato abanou a cauda para a direita e para a esquerda e sentou-se.

Abriram a primeira caixa. Dentro estavam chocolates. Abriram a segunda e dentro estavam chocolates, a terceira e por aí adiante. Todas tinham chocolates.

A Francisca também se sentou no chão e ficou a pensar o que havia de fazer com aquela prenda. O papá e a mamã não me vão deixar comer isto tudo, pensou a Francisca.
A sala estava cheia de caixas de bombons. O gato Mozart dormia ao lado da Francisca que ainda se encontrava a imaginar quanto tempo ia demorar a comer tanto chocolate.

Se ao menos o embrulho tivesse uma morada, ainda seria possível desfazer o engano do Pai Natal.

Tão forte preocupação passou a invadir os sonhos da Francisca.
Uma vez sonhou que estava a tomar banho em chocolate e transformou-se na Menina de Chocolate. Acordou toda transpirada e sobressaltada porque alguém a partia aos bocadinhos para comer a Menina de Chocolate.

Mais uma vez sonhou com todo aquele chocolate. Muito entusiasmada e contente, construiu uma casa de chocolate que ficou muito bonita.
Acordou novamente muito aflita porque a sua casa estava a desaparecer. Toda a gente da aldeia estava a desfazer a sua casa. As paredes, as telhas, as escadas, os móveis, tudo estava a ser comido pelas crianças e por toda a gente grande que gostava de chocolate.

Também sonhou que o mar era de chocolate, os barcos, os peixes e até os pescadores que andavam à pesca, eram de chocolate. Nesse dia acordou mais calma porque ninguém comeu o mar, nem os peixes nem os homens de chocolate que pescavam peixes de chocolate.

No seu último dia de férias de Natal a Francisca brincava às escondidas com o seu gato e encontrou-o dentro do seu guarda-vestidos muito ensarilhado na sua camisola castanha.

- Já sei! Gritou a Francisca. Já sei o que vou fazer com todos os bombons!

No primeiro dia de aulas, depois das férias, falou com a professora.
À noite falou com os pais. A sua ideia estava a entusiasmá-la e meteu mãos à obra. Falou com todos os meninos da sua turma e todos concordaram. No último dia de Janeiro a aldeia estava em festa. Ninguém cabia de contente ao ver aqueles lindos trabalhos feitos de chocolate.

A imaginação estava ali, naquele que era o primeiro festival do chocolate.
Todos podiam comprar uma escultura. Um gato, uma árvore, um sapato, uma cadeira, um carrinho, um elefante, uma flor, um livro, uma menina de chocolate, tudo, tudo que até fica cansativo dizer aqui. Só mesmo visto!

No último dia do festival, caíram do céu pintarolas de chocolate de todas as cores.

A aldeia da Francisca ficou famosa pelos seus Festivais do Chocolate.


M.
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