terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ALDEIA MÁGICA

Consta-se que tudo começou quando um casal se perdeu no caminho e que de tão exaustos que estavam, foram bater à porta da primeira casinha branca que viram e pediram guarida.



Por qualquer magia ainda por desvendar, aqueles caminhos labirínticos faziam com que as pessoas se perdessem e fossem parar à aldeia. As árvores apontavam para o sítio certo e havia sempre uma luz mais brilhante a iluminar a estrada a percorrer. Aconteceu com alguns viajantes e todos sentiam algo de mágico. Ninguém ficava indiferente aos bons momentos passados na companhia daquela gente maravilhosa.



A Gabriela e o Martinho também foram os escolhidos para se perderem do caminho que levavam e irem parar à aldeia mágica. Já de noite, foram recebidos por um jovem que lhes descreveu a aldeia, as suas actividades, e lhes deu um mapa com os caminhos temáticos pedonais.



O que pairava no ar, a luz, as cores, os animais em liberdade e aquela gente fez com que o Martinho ficasse mais solto e comunicativo. Já sorria para todas as pessoas e até já demonstrava alguma ternura para com a Gabriela. Destinaram o primeiro dia para fazer o caminho dos sentidos e durante a tarde percorreram aquelas veredas, as terras do lameiro e subiram uma boa parte do monte. Despertaram para tudo o que os seus sentidos conseguiam captar daquela fascinante natureza. Os cheiros, as cores em cambiantes de luz que até parecia que brincava às escondidas com eles, a pele rugosa das árvores, o recorte das folhas, as flores silvestres, o chilrear dos pássaros, o bailar do vento, tudo os encantou.



No dia seguinte percorreram o caminho das emoções. Logo de manhã a Gabriela reparou no brilho dos olhos do Martinho e no seu rosto mais alegre. Caminharam até à lagoa e aí repousaram um pouco. Sentaram-se numa manta e almoçaram o que lhes tinham colocado numa cesta. Do outro lado do lago avistaram uma esquiva raposa que veio saciar a sua sede. A Gabriela ficou fascinada com a cauda tão exuberante e o pelo tão dourado do animal.



Na continuação do percurso e para grande espanto da Gabriela, o Martinho agarrou-lhe na mão e quando entraram na gruta dos morcegos, deu-lhe um abraço muito apertado e um beijo muito sentido. A Gabriela ficou num sino.



No caminho de volta e já perto da aldeia, cruzaram-se com uma velha muito bonita, de cabelo todo branco, um rosto tisnado pelo sol e com os olhos mais azuis que o céu. Os olhos penetrantes da velha olharam de tal forma para a Gabriela que ela sentiu que estava a ser vista por dentro. De imediato, a velha tirou debaixo do seu avental uma caixa de bombons e entregou-lha.



- Leva para tua casa e come com o teu companheiro. Não ofereças a ninguém. São só para vocês, que estão a precisar, disse a velha dos olhos mais azuis que o céu.



Olharam um para o outro e quando a Gabriela ia agradecer à velha senhora já ela tinha desaparecido. Ficaram siderados, paralisados! Em redor, nem uma brisa, nem um ruído, nem um cheiro. Nenhuma pista para entender o que se tinha passado ali.



Em casa, o Martinho já andava mais atencioso com a Gabriela. Nessa noite, abriram a caixa e comeram o primeiro bombom que tinha recheio de Vinho do Porto. Durante o pequeno-almoço, o Martinho comentou com a Gabriela que tinha tido um sonho muito agradável. A Gabriela foi trabalhar muito animada e o seu dia de trabalho até correu melhor.



Depois do jantar do dia seguinte, experimentaram os bombons com recheio de mel, como indicava a caixa. Depois de acordarem, o Martinho comentou com a Gabriela que não sabia o que se estava a passar mas, pela segunda vez tinha tido um sonho muito erótico. A sua cara de malandro denunciava o gozo que aquele sonho lhe tinha proporcionado. Nada de melhor podia estar a acontecer. O coração da Gabriela batia que nem um cavalo de corrida. O Martinho estava a voltar aos velhos tempos.



Na terceira noite o bombom que tinham para experimentar era o do recheio de pimenta. Ficaram um pouco receosos, mas adoraram aquela combinação secreta da pimenta com o chocolate amargo. Ainda bem que no dia seguinte era feriado, porque a noite foi o clímax que a Gabriela tanto desejava. Tinha o Martinho de volta, doce, terno e muito amoroso como quando se começaram a amar.



Nessa noite, no pouco tempo que a Gabriela dormiu, sonhou com a velha dos olhos azuis cor do céu.

M.
www.bebebabel.com.pt

domingo, 22 de janeiro de 2012

ÁRVORE





Se eu pudesse escolher
Mulher não queria ser
Mas homem também não

Experimentava ser árvore

Ser casa dos passarinhos
Ser sombra no verão
Viver na floresta
Chegar bem alto no céu
Falar com as estrelas
Vergar com o peso da neve
Mas ficar sempre de pé
Atravessando séculos
E nunca mais morrer…

Uma árvore não tem vida
Tem uma eternidade para viver
Não envelhece, amadurece
E em cada primavera rejuvenesce.


M.
www.bebebabel.com.pt